quarta-feira, 26 de outubro de 2011
domingo, 16 de outubro de 2011
sábado, 15 de outubro de 2011
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Um grito de desespero: Mário de Sá Carneiro
Vontade de Dormir
Fios d'ouro puxam por mim
A soerguer-me na poeira -
Cada um para o seu fim,
Cada um para o seu norte...
. . . . . . . . . . . . . . .
- Ai que saudade da morte...
. . . . . . . . . . . . . . .
Quero dormir... ancorar...
. . . . . . . . . . . . . . .
Arranquem-me esta grandeza!
- Pra que me sonha a beleza,
Se a não posso transmigrar?...
Mário de Sá-Carneiro, in 'Dispersão'
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Um grito de esperança: Prémio Nobel da Paz 2011
Três mulheres- a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, a também liberiana Leymah Gbowee e a activista iemenita Tawakkul Karman- foram laureadas com o Prémio Nobel da Paz de 2011.
Thorbjoern Jagland, presidente do comité do Nobel, argumentou que as laureadas foram "recompensadas pela sua luta não violenta pela segurança das mulheres e pelos seus direitos a participar nos processos de paz".
Ellen Johnson Sirleaf, de 72 anos, foi a primeira mulher a ser livremente eleita presidente de um país africano, em 2005. Economista e mãe de quatro filhos, a "Dama de Ferro" tenta a reeleição em pleito marcado para esta terça-feira.
A sua compatriota Leymah Gbowee teve um papel importante como activista durante a segunda guerra civil liberiana, em 2003. Ela mobilizou as mulheres do seu país para o fim da guerra, organizando inclusive uma "greve de sexo" em 2002. Também organizou as mulheres acima de suas divisões étnicas e tribais no país, ajudando a garantir os seus direitos políticos.
E Tawakkul Karman, ativista iemenita pró-direitos das mulheres, tem uma importante participação na chamada Primavera Árabe, movimento pró-abertura democrática que tem sacudido politicamente vários países do mundo árabe desde o início do ano.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Um grito de alegria: poema de Tomas Tranströmer
FUNCHAL
poema de Tomas Tranströmer
O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca, construída por náufragos.
Muitos, chegados à porta, voltam para trás, mas não assim as rajadas de vento
do mar. Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa dois peixes,
segundo uma antiga receita da Atlântida, pequenas explosões de alho.
O óleo flui sobre as rodelas do tomate. Cada dentada diz que o oceano nos quer
bem, um zunido das profundezas.
Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos as agrestes colinas floridas, sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais, bem-vindos, não
envelhecemos. Mas já suportámos tantas coisas juntos, lembramo-nos disso,
horas em que também de pouco ou nada servíamos ( por exemplo, quando
esperávamos na bicha para doar o sangue saudável – ele tinha prescrito uma
transfusão). Acontecimentos, que nos podiam ter separado, se não nos tivéssemos
unido, e acontecimentos que, lado a lado, esquecemos – mas eles não nos esqueceram!
Eles tornaram-se pedras, pedras claras e escuras, pedras de um mosaico desordenado.
E agora aconteceu: os cacos voam todos na mesma direcção, o mosaico nasce.
Ele espera por nós. Do cimo da parede, ele ilumina o quarto de hotel, um design,
violento e doce, talvez um rosto, não nos é possível compreender tudo, mesmo
quando tiramos as roupas.
Ao entardecer, saímos. A poderosa pata, azul escura, da meia ilha jaz,
expelida sobre o mar. Embrenhamo-nos na multidão, somos empurrados
amigavelmente, suaves controlos, todos falam, fervorosos, na língua
estranha. “um homem não é uma ilha”. Por meio deles fortalecemo-nos, mas
também por meio de nós mesmos. Por meio daquilo que existe em nós e que os
outros não conseguem ver. Aquela coisa que só se consegue encontrar a ela
própria. O paradoxo interior, a flor da garagem, a válvula contra a boa escuridão.
Uma bebida que borbulha nos copos vazios. Um altifalante que propaga o silêncio.
Um atalho que, por detrás de cada passo, cresce e cresce. Um livro que só no escuro
se consegue ler.
poema de Tomas Tranströmer
O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca, construída por náufragos.
Muitos, chegados à porta, voltam para trás, mas não assim as rajadas de vento
do mar. Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa dois peixes,
segundo uma antiga receita da Atlântida, pequenas explosões de alho.
O óleo flui sobre as rodelas do tomate. Cada dentada diz que o oceano nos quer
bem, um zunido das profundezas.
Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos as agrestes colinas floridas, sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais, bem-vindos, não
envelhecemos. Mas já suportámos tantas coisas juntos, lembramo-nos disso,
horas em que também de pouco ou nada servíamos ( por exemplo, quando
esperávamos na bicha para doar o sangue saudável – ele tinha prescrito uma
transfusão). Acontecimentos, que nos podiam ter separado, se não nos tivéssemos
unido, e acontecimentos que, lado a lado, esquecemos – mas eles não nos esqueceram!
Eles tornaram-se pedras, pedras claras e escuras, pedras de um mosaico desordenado.
E agora aconteceu: os cacos voam todos na mesma direcção, o mosaico nasce.
Ele espera por nós. Do cimo da parede, ele ilumina o quarto de hotel, um design,
violento e doce, talvez um rosto, não nos é possível compreender tudo, mesmo
quando tiramos as roupas.
Ao entardecer, saímos. A poderosa pata, azul escura, da meia ilha jaz,
expelida sobre o mar. Embrenhamo-nos na multidão, somos empurrados
amigavelmente, suaves controlos, todos falam, fervorosos, na língua
estranha. “um homem não é uma ilha”. Por meio deles fortalecemo-nos, mas
também por meio de nós mesmos. Por meio daquilo que existe em nós e que os
outros não conseguem ver. Aquela coisa que só se consegue encontrar a ela
própria. O paradoxo interior, a flor da garagem, a válvula contra a boa escuridão.
Uma bebida que borbulha nos copos vazios. Um altifalante que propaga o silêncio.
Um atalho que, por detrás de cada passo, cresce e cresce. Um livro que só no escuro
se consegue ler.
Um grito de alegria: Tomas Tranströmer
Tomas Tranströmer é um poeta, tradutor e psicólogo sueco.
A poesia de Tranströmer tem uma grande influência na Suécia e em todo o mundo, sendo ele o poeta sueco mais traduzido: os seus poemas estão traduzidos em mais de trinta línguas. Recebeu numerosos prémios literários, como por exemplo o Prémio Literário do Conselho Nórdico em 1990 e o Prémio Nobel da Literatura em 2011.
Tranströmer iniciou-se na poesia aos 23 anos de idade. O seu primeiro livro intitulava-se 17 dikter (17 poemas). Vive presentemente numa ilha, longe dos olhares do mundo e dos meios de comunicação. Foi psicólogo de profissão até 1990. Redigiu cerca de uma quinzena de obras numa longa carreira dedicada à escrita.
Em 1990 foi vítima de um acidente vascular cerebral que o deixou em parte afásico e hemiplégico. Continuou a escrever e publicou três obras, como "O Grande Enigma: 45 Haikus".
terça-feira, 4 de outubro de 2011
sábado, 1 de outubro de 2011
Um grito de saudades: William Butler Yeats
QUANDO FORES VELHA
Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram os teus olhos, e com as suas sombras profundas;
Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;
Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.
William Butler Yeats
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