quinta-feira, 22 de agosto de 2013

terça-feira, 20 de agosto de 2013

domingo, 18 de agosto de 2013

Joaquim Pessoa

Abraça-me

Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antigos braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos.
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes.
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais.
Uma vez que nem sei se tu existes.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

terça-feira, 13 de agosto de 2013

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

sábado, 10 de agosto de 2013

Jorge de Sena

ODE À INCOMPREENSÃO

De todas estas palavras não ficará, bem sei,
um eco para depois da morte
que as disse vagarosamente pela minha boca.
Tudo quanto sonhei, quanto pensei, sofri,
ou nem sonhei ou nem pensei
ou apenas sofri de não ter sofrido tanto
como aterradamente esperara -
nenhum eco haverá de outras canções
não ditas, guardadas nos corações
alheios, ecoando abscônditas ao sopro do poeta.
Não por mim. Por mim tudo o que, para ecoar-se,
não encontrou eco. Por tudo o que,
para ecoar ficou silencioso, imóvel -
- isso me dói como de ausência a música
não tocada, não ouvida, o ritmo suspenso,
eminente, destinado, isso me dói
dolorosamente, amargamente, na distância
do saber tão claro, da visão tão lúcida,
que para tão longe afasta o compassado ardor
das vibrações do sangue pelos corpos próximos.
(…)
Tão longe, meu amor, tão longe
quem de tão longe alguma vez regressa?!
(…)

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Herberto Helder

Só tenho o meu disse, o meu terror.
Estou sempre ocupado nisso: chegar ao pé de portas, sair de túneis para o meio da poeira, espreitar para os enigmas, andar depressa pelos labirintos, estudar topografias.
Sim tenho disse ele o amor dos mapas.
Parecem reais.
Foi ali fixada qualquer coisa extremamente móvel, fugidia, inexistente: os lugares, e as pessoas nos lugares, mas isso nem nos mapas vem.
Talvez fosse bom parar, mas talvez eu já não saiba.
Não me lembro de ter estado imóvel.
Amo-te disse ela, chamei-te.
Sim, sim, amo-te, talvez eu tivesse querido ouvir, já não sei, talvez eu queira saber foi o que ele disse, sim.
(Eles estavam deitados, e isto pode perceber-se, pode perceber-se tudo.
Pode perceber-se que ela lhe desabotoou a camisa e esfregou o rosto e a boca no peito dele, e esteve assim, muito tempo, e nenhum deles falava. (p. 119)
apresentação do rosto, Editora Ulisseia, 1968
 

quinta-feira, 1 de agosto de 2013