sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Grito 43

Amigo

Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Um grito em forma de livro: Adoecer, Hélia Correia



Adoecer, de Hélia Correia, é um livro fascinante na forma e no conteúdo. Na forma porque dá asas literárias aos limites da História. No conteúdo porque ousa ser singular ao abordar a vida de um conjunto de criadores artísticos do século XIX inglês que ficaram conhecidos como pré- -rafaelitas, um universo muito pouco frequentado pelos romancistas portugueses.
Que sorte que Hélia Correia se tenha obcecado pelo quadro “Ophelia” de John Everett Millais e pela mulher já meio mineral que o protagoniza: Elizabeth Eleanor Siddal, pintora, poeta e modelo. A ruiva, musa e amante que incendiou a vida criativa de Dante Gabriel Rossetti.

Adoecer é seminal na definição do romantismo para leitores até agora distraídos: uma teia intricada de um mal-estar melancólico, febril, que se projecta num futuro que pedirá uma arqueologia amorosa como a que Hélia Correia exerce quase 150 anos depois de Lizzie estar morta e com ela ter sido enterrada uma parceria artística e amorosa fundamental para compreender uma página importante da História da arte ocidental.

Hélia Correia é generosa na partilha do que viu, do que descobriu, confirmou, mas também de mistérios que permanecerão, como o de olhar de Lizzie na forma como ainda hoje nos interpela na Red House, em Upton: “ Olha para fora do enquadramento, para longe dos outros, tão alheia que a tomariam facilmente por alguém que se perdeu e ainda procura o seu caminho. (…) Não há um rosto mais angustiado na história da pintura que, no entanto, sempre atentou bastante nos martírios.”
Rui Lagartinho

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Um grito na vida: Sofia Coppola


Sofia Coppola, mais conhecida como filha do produtor e director de cinema Francis Ford Coppola, realizou, na sua estreia na direcção, um filme belíssimo. As Virgens Suicídas, uma adaptação do romance americano homónimo de Jeffrey Eugenides, passa-se no coração dos anos 70, num subúrbio americano como tantos. O filme conta a história de cinco raparigas adolescentes lidando com o seu desenvolvimento numa família com pais opressores e uma sociedade em vias de transformação.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

domingo, 5 de setembro de 2010

Grito 42

ROSTO

Rosto nu na luz directa.


Rosto suspenso, despido e permeável,
Osmose lenta.
Boca entreaberta como se bebesse,
Cabeça atenta.


Rosto desfeito,
Rosto sem recusa onde nada se defende,
Rosto que se dá na duvida do pedido,
Rosto que as vozes atravessam.


Rosto derivando lentamente,
Pressentindo que os laranjais segredam,
Rosto abandonado e transparente
Que as negras noites de amor em si recebem


Longos raios de frio correm sobre o mar
Em silêncio ergueram-se as paisagens
E eu toco a solidão como uma pedra.


Rosto perdido
Que amargos ventos de secura em si sepultam
E que as ondas do mar puríssimas lamentam.


SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESSEN

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Um grito em forma de livro: O Processo, Franz Kafka


O Processo (no original em alemão, Der Prozess) é um romance do escritor checo Franz Kafka, que conta a história de Josef K., personagem que acorda certa manhã, e, sem motivos sabidos, é preso e sujeito a longo e incompreensível processo por um crime não revelado.