quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Um grito em forma de livro: Al Berto, O Medo


O medo cresce lentamente, sentimo-lo invadir-nos, corroer-nos, como se fosse um novo e estranho frenezim. O Medo de Al Berto cresceu assim. Revela-se no confessionalismo e na sensualidade de um corpo excessivo, das palavras que gritam o sufoco embriagado de uma juventude febril, num tempo de sentir tudo. As histórias de um viandante sem rumo, errante nas noites plenas de rituais de iniciação porque “é imprevista a melodia das paixões”. Depois, vem o tempo do desencanto, do corpo cansado, das memórias da terra e da madurez. Tempo de lágrimas escorridas. Quando, no fim, reaparece a solidão e o medo, voltamos a perceber que “escrita é a minha primeira morada de silêncio”.

Um grito na vida: Carl Dreyer


“A Palavra” de Carl Dreyer (1955) é uma das grandes referências da história do cinema.
Tendo como tema a fé e o milagre, sob a forte influência do pensamento do filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard, o filme apresenta uma forte tensão existencial que lhe permite não só representar o tempo de transição em que foi concebido e produzido mas também assumir uma dimensão intemporal que hoje lhe concede uma aura muito especial.
O velho Morten Borgen e os filhos Mikkel e André começam por procurar Johannes o irmão mais novo que na sua loucura julga ser uma encarnação de Jesus Cristo. Inger mulher de Mikkel está grávida, tenta consolá-los. Entretanto as coisas precipitam-se, acontece o parto prematuro do filho de Inger, a que se segue a morte do recém-nascido. Isto enquanto Borgen discute com Peter a hipótese de casamento da filha deste com Johannes. Mas Inger não resiste e morre, como Johannes profetizara. Quando se prepara o funeral da jovem mãe, Johannes aparece, com uma surpreendente lucidez e acusa Mikkel de falta de fé por nada ter feito para fazer voltar à vida a mulher cuja alma, mas também o corpo, amava … E é a partir deste momento que o milagre ocorre, com o surpreendente regresso à vida de Inger, fazendo reviver o episódio de Lázaro.
Trata-se de uma adaptação da peça teatral homónima de Kaj Munk (1898-1944), pastor e dramaturgo, que Carl Dreyer viu em cena em 1932 – e que causou no cineasta uma forte impressão, obrigando-o a uma relação inteiramente nova com a espiritualidade.

Um grito a dois: Albrecht Durer