sábado, 31 de dezembro de 2011

Um grito de fim de ano: Shakespeare, alguém que nos disse tudo

"Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos."
Principais obras : - Comédias: O Mercador de Veneza, Sonho de uma noite de verão, A Tempestade. - Tragédias: Tito Andrónico, Romeu e Julieta, Julio César, Macbeth, O Rei Lear, Otelo e Hamlet. - Dramas Históricos: Henrique IV, Ricardo III, Henrique V, Henrique VIII.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Um grito de génio: Gonçalo M. Tavares

O Amor não Rende Juros 137 É verdade «que um baixo amor os fortes enfraquece» mas também o grande amor torna ridículos os grandes, pois o amor é, em energia material sobre o mundo, um roubo — apesar de, em sensações, ser magnífico. 0 amor será útil internamente, mas externamente não carrega um tijolo. Disso nunca tive dúvidas. 138 A vida, é certo, não será um sítio excepcional para as paixões. Nos países humanos, o amor mistura-se muito com palavras equívocas. 0 fogo que existe numa lareira, por exemplo, é um fogo servil, cultural, educado. Uma coisa vermelha, mas mansa, que nos obedece. Só é natureza, o fogo na lareira, quando, vingando-se, provoca um incêndio. E o amor assim funciona. Mas é preferível o contrário. 139 É desarranjo de estratégias e planos, surpresa ritmada, uma ilegalidade exaltante que não prejudica os vizinhos. Mas atenção, de novo: o amor não faz bem aos países, não desenvolve as suas indústrias, nem a economia. Disso nunca tive dúvidas. E por isso é preferível não. 140 No entanto, qual é o país que pode impedir que o amor entre? Não é mercadoria traficada em caixas, que as caixas são objectos que se abrem ao meio — e é possivel, com uma lanterna, olhar lá para dentro. 141 0 amor não se vê como se fosse uma presença. É demasiado completo para ter uma forma. E como jamais se conseguiram obter juros de uma coisa que não ocupa espaço, é preferível não, parece-me. Gonçalo M. Tavares, in "Uma Viagem à Índia"

domingo, 18 de dezembro de 2011

Outro grito de tristeza: Morreu Václav Havel

Václav Havel (Praga, 5 de outubro de 1936 — Praga, 18 de dezembro 2011) foi um escritor, intelectual e dramaturgo tcheco. Foi o último presidente da Checoslováquia e o primeiro presidente da República Checa. Firme defensor da resistência não-violenta (tendo passado cinco anos preso por causa das suas convicções), tornou-se um ícone da Revolução de Veludo no seu país, em 1989. Em 29 de dezembro de 1989, na qualidade de chefe do Fórum Cívico, elegeu-se presidente da C
hecoslováquia pelo voto unânime da Assembléia Federal.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Um grito a dois: Da Vinci

Art on the couch: when Sigmund Freud examined Leonardo da Vinci The father of psychoanalysis was also an inspiring writer on art – but do his ideas stand the test of time?
Freud loved art and collected it. In his London home, you can see the collection that came with him when he fled Vienna: a rich and diverse array of archaeological objects, a Rembrandt print, images of Egypt. It is often said that although Freud was the contemporary of Gustav Klimt, he showed no interest in modern art; but this is not fair. He dreamed about Arnold Böcklin's symbolist masterpiece The Isle of the Dead, and his books are themselves works of modernism that went on to inspire the surrealists. His famous book on Leonardo da Vinci is anything but conservative. Making bold claims about Leonardo's sexuality, personality and the way works of art relate to real life, his book on this Renaissance genius is hugely suggestive and stimulating. It's one of the classics on Leonardo and always will be. But what is wrong with it is the belief that art can ultimately be theorised and explained. It's not that Freud gets the artist wrong – his essential claims are convincing, his characterisation of the genius's indecisive and gentle personality acute – but that the quest for ultimate origins and final explanations seems futile. You might say that Freud's bedside manner towards Leonardo – his doctoring – is superb, but his scientific analysis seems to go beyond that humane sensitivity. The genius of the surrealists was to adopt Freud's insights while ignoring the underlying science – or, as more hostile critics might say, pseudo-science. They took what is living in Freud – the deeply insightful recognition of the psyche and sexuality – and left out the cumbersome dogmatic superstructure. What endures of Freud is the artist, the writer, the man of feeling.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Grito 60: Auden


W.H. Auden
DIZ-ME A VERDADE ACERCA DO AMOR


Ah, diz-me a verdade acerca do amor

Há quem diga que o amor é um rapazinho,
E quem diga que ele é um pássaro;
Há quem diga que faz o mundo girar,
E quem diga que é um absurdo,
E quando perguntei ao meu vizinho,
Que tinha ar de quem sabia,
A sua mulher zangou-se mesmo muito,
E disse que isso não servia para nada.

Será parecido com uns pijamas,
Ou com o presunto num hotel de abstinência?
O seu odor faz lembrar o dos lamas,
Ou tem um cheiro agradável?
É áspero ao tacto como uma sebe espinhosa
Ou é fofo como um edredão de penas?
É cortante ou muito polido nos seus bordos?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Os nossos livros de história fazem-lhe referências
Em curtas notas crípticas,
É um assunto de conversa muito vulgar
Nos transatlânticos;
Descobri que o assunto era mencionado
Em relatos de suicidas,
E até o vi escrevinhado
Nas costas dos guias ferroviários.

Uiva como um cão de Alsácia esfomeado,
Ou ribomba como uma banda militar?
Poderá alguém fazer uma imitação perfeita
Com um serrote ou um Steinway de concerto?
O seu canto é estrondoso nas festas?
Ou gosta apenas de música clássica?
Interrompe-se quando queremos estar sossegados?
Ah! diz-me a verdade acerca do amor.

Espreitei a casa de verão,
E não estava lá,
Tentei o Tamisa em Maidenhead
E o ar tonificante de Brighton,
Não sei o que cantava o melro,
Ou o que a tulipa dizia;
Mas não estava na capoeira,
Nem debaixo da cama.

Fará esgares extraordinários?
Enjoa sempre num baloiço?
Passa todo o seu tempo nas corridas?
Ou a tocar violino em pedaços de cordel?
Tem ideias próprias sobre o dinheiro?
Pensa ser o patriotismo suficiente?
As suas histórias são vulgares mas divertidas?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Chega sem avisar no instante
Em que meto o dedo no nariz?
Virá bater-me à porta de manhã,
Ou pisar-me os pés no autocarro?
Virá como uma súbita mudança de tempo?
O seu acolhimento será rude ou delicado?
Virá alterar toda a minha vida?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um grito maldito: Paul Verlaine

O Amor no Chão

O vento da outra noite derrubou o Amor
Que, no mais misterioso recanto do parque,
Nos sorria, ao esticar malignamente o arco,
E cujo ar nos fez meditar com fervor!

O vento da outra noite derrubou-o! O mármore
com o sopro da manhã, disperso, gira. É triste
Olhar o pedestal, onde o nome do artista
Se lê com muito esforço à sombra de uma árvore,

É triste ver em pé, sozinho, o pedestal!
Melancólicos vêm e vão pensamentos
No meu sonho, onde o mais profundo sofrimento
Evoca um solitário futuro fatal.

É triste! — E mesmo tu, não é? ficas tocada
Plo cenário dolente, embora te divirtas
Com a borboleta rubra e de oiro, que se agita
Sobre a alameda, além, de destroços juncada.

Paul Verlaine, in "Festas Galantes"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral

Um grito para Ana Paula Inácio: Tom Waits - you are innocent when you dream



The bats are in the belfry
the dew is on the moor
where are the arms that held me
and pledged her love before
and pledged her love before
Chorus:
It's such a sad old feeling
the fields are soft and green
it's memories that I'm stealing
but you're innocent when you dream
when you dream
you're innocent when you dream
Running through the graveyard
we laughed my friends and I
we swore we'd be together
until the day we died
until the day we died
Repeat chorus
I made a golden promise
that we would never part
I gave my love a locket
and then I broke her heart
and then I broke her heart
Repeat chorus

Outro grito maravilhoso: Bach

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Mais um grito de morte: Rilke e Pessoa



Se te Queres Matar

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...

Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?

Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbihonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa




A Canção do Suicida

Só mais um momento.
Que voltem sempre a cortar-me
a corda.
Há pouco estava tão preparado
e havia já um pouco de eternidade
nas minhas entranhas.

Estendem-me a colher,
esta colher de vida.
Não, quero e já não quero,
deixem-me vomitar sobre mim.

Sei que a vida é boa
e que o mundo é uma taça cheia,
mas a mim não me chega ao sangue,
a mim só me sobe à cabeça.

Aos outros alimenta-os, a mim põe-me doente;
compreendei que há quem a despreze.
Durante pelo menos mil anos
preciso agora fazer dieta.

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"
Tradução de Maria João Costa Pereira