sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Grito 60: Auden


W.H. Auden
DIZ-ME A VERDADE ACERCA DO AMOR


Ah, diz-me a verdade acerca do amor

Há quem diga que o amor é um rapazinho,
E quem diga que ele é um pássaro;
Há quem diga que faz o mundo girar,
E quem diga que é um absurdo,
E quando perguntei ao meu vizinho,
Que tinha ar de quem sabia,
A sua mulher zangou-se mesmo muito,
E disse que isso não servia para nada.

Será parecido com uns pijamas,
Ou com o presunto num hotel de abstinência?
O seu odor faz lembrar o dos lamas,
Ou tem um cheiro agradável?
É áspero ao tacto como uma sebe espinhosa
Ou é fofo como um edredão de penas?
É cortante ou muito polido nos seus bordos?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Os nossos livros de história fazem-lhe referências
Em curtas notas crípticas,
É um assunto de conversa muito vulgar
Nos transatlânticos;
Descobri que o assunto era mencionado
Em relatos de suicidas,
E até o vi escrevinhado
Nas costas dos guias ferroviários.

Uiva como um cão de Alsácia esfomeado,
Ou ribomba como uma banda militar?
Poderá alguém fazer uma imitação perfeita
Com um serrote ou um Steinway de concerto?
O seu canto é estrondoso nas festas?
Ou gosta apenas de música clássica?
Interrompe-se quando queremos estar sossegados?
Ah! diz-me a verdade acerca do amor.

Espreitei a casa de verão,
E não estava lá,
Tentei o Tamisa em Maidenhead
E o ar tonificante de Brighton,
Não sei o que cantava o melro,
Ou o que a tulipa dizia;
Mas não estava na capoeira,
Nem debaixo da cama.

Fará esgares extraordinários?
Enjoa sempre num baloiço?
Passa todo o seu tempo nas corridas?
Ou a tocar violino em pedaços de cordel?
Tem ideias próprias sobre o dinheiro?
Pensa ser o patriotismo suficiente?
As suas histórias são vulgares mas divertidas?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Chega sem avisar no instante
Em que meto o dedo no nariz?
Virá bater-me à porta de manhã,
Ou pisar-me os pés no autocarro?
Virá como uma súbita mudança de tempo?
O seu acolhimento será rude ou delicado?
Virá alterar toda a minha vida?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor

1 comentário:

  1. Maria Antónia Prazeres9 de dezembro de 2011 às 15:20

    A minha verdade é esta:
    Palete

    Eu não gosto do amor...
    O amor não tem cor
    O amor faz sofrer...
    Porque não uma paixao?
    Essa sim é colorida, divertida
    E criativa...
    O amor faz sofrer de dor
    A paixão é caricia a arder
    num campo verde
    salpicado de amarelo,
    de sóis, girassois e lençois
    O amor é cinzento,
    que tal como a chuva se entranha
    e seca...
    A paixão é um perfume lilás
    Que fica, sem nunca voltar atrás
    E dura eternamente...
    E se por acaso o amor e a paixão
    Um dia se encontrarem
    Se apaixonarem e casarem
    Então o cinzento do amor
    Juntamente com todas as cores quentes
    da paixão
    Formarão tamanha cor,
    numa palete de mão...
    (Fiz isto em Julho deste ano, e é a minha verdade - o amor é cinzento!)

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