sábado, 31 de dezembro de 2011

Um grito de fim de ano: Shakespeare, alguém que nos disse tudo

"Sofremos muito com o pouco que nos falta e gozamos pouco o muito que temos."
Principais obras : - Comédias: O Mercador de Veneza, Sonho de uma noite de verão, A Tempestade. - Tragédias: Tito Andrónico, Romeu e Julieta, Julio César, Macbeth, O Rei Lear, Otelo e Hamlet. - Dramas Históricos: Henrique IV, Ricardo III, Henrique V, Henrique VIII.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Um grito de génio: Gonçalo M. Tavares

O Amor não Rende Juros 137 É verdade «que um baixo amor os fortes enfraquece» mas também o grande amor torna ridículos os grandes, pois o amor é, em energia material sobre o mundo, um roubo — apesar de, em sensações, ser magnífico. 0 amor será útil internamente, mas externamente não carrega um tijolo. Disso nunca tive dúvidas. 138 A vida, é certo, não será um sítio excepcional para as paixões. Nos países humanos, o amor mistura-se muito com palavras equívocas. 0 fogo que existe numa lareira, por exemplo, é um fogo servil, cultural, educado. Uma coisa vermelha, mas mansa, que nos obedece. Só é natureza, o fogo na lareira, quando, vingando-se, provoca um incêndio. E o amor assim funciona. Mas é preferível o contrário. 139 É desarranjo de estratégias e planos, surpresa ritmada, uma ilegalidade exaltante que não prejudica os vizinhos. Mas atenção, de novo: o amor não faz bem aos países, não desenvolve as suas indústrias, nem a economia. Disso nunca tive dúvidas. E por isso é preferível não. 140 No entanto, qual é o país que pode impedir que o amor entre? Não é mercadoria traficada em caixas, que as caixas são objectos que se abrem ao meio — e é possivel, com uma lanterna, olhar lá para dentro. 141 0 amor não se vê como se fosse uma presença. É demasiado completo para ter uma forma. E como jamais se conseguiram obter juros de uma coisa que não ocupa espaço, é preferível não, parece-me. Gonçalo M. Tavares, in "Uma Viagem à Índia"

domingo, 18 de dezembro de 2011

Outro grito de tristeza: Morreu Václav Havel

Václav Havel (Praga, 5 de outubro de 1936 — Praga, 18 de dezembro 2011) foi um escritor, intelectual e dramaturgo tcheco. Foi o último presidente da Checoslováquia e o primeiro presidente da República Checa. Firme defensor da resistência não-violenta (tendo passado cinco anos preso por causa das suas convicções), tornou-se um ícone da Revolução de Veludo no seu país, em 1989. Em 29 de dezembro de 1989, na qualidade de chefe do Fórum Cívico, elegeu-se presidente da C
hecoslováquia pelo voto unânime da Assembléia Federal.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Um grito a dois: Da Vinci

Art on the couch: when Sigmund Freud examined Leonardo da Vinci The father of psychoanalysis was also an inspiring writer on art – but do his ideas stand the test of time?
Freud loved art and collected it. In his London home, you can see the collection that came with him when he fled Vienna: a rich and diverse array of archaeological objects, a Rembrandt print, images of Egypt. It is often said that although Freud was the contemporary of Gustav Klimt, he showed no interest in modern art; but this is not fair. He dreamed about Arnold Böcklin's symbolist masterpiece The Isle of the Dead, and his books are themselves works of modernism that went on to inspire the surrealists. His famous book on Leonardo da Vinci is anything but conservative. Making bold claims about Leonardo's sexuality, personality and the way works of art relate to real life, his book on this Renaissance genius is hugely suggestive and stimulating. It's one of the classics on Leonardo and always will be. But what is wrong with it is the belief that art can ultimately be theorised and explained. It's not that Freud gets the artist wrong – his essential claims are convincing, his characterisation of the genius's indecisive and gentle personality acute – but that the quest for ultimate origins and final explanations seems futile. You might say that Freud's bedside manner towards Leonardo – his doctoring – is superb, but his scientific analysis seems to go beyond that humane sensitivity. The genius of the surrealists was to adopt Freud's insights while ignoring the underlying science – or, as more hostile critics might say, pseudo-science. They took what is living in Freud – the deeply insightful recognition of the psyche and sexuality – and left out the cumbersome dogmatic superstructure. What endures of Freud is the artist, the writer, the man of feeling.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Grito 60: Auden


W.H. Auden
DIZ-ME A VERDADE ACERCA DO AMOR


Ah, diz-me a verdade acerca do amor

Há quem diga que o amor é um rapazinho,
E quem diga que ele é um pássaro;
Há quem diga que faz o mundo girar,
E quem diga que é um absurdo,
E quando perguntei ao meu vizinho,
Que tinha ar de quem sabia,
A sua mulher zangou-se mesmo muito,
E disse que isso não servia para nada.

Será parecido com uns pijamas,
Ou com o presunto num hotel de abstinência?
O seu odor faz lembrar o dos lamas,
Ou tem um cheiro agradável?
É áspero ao tacto como uma sebe espinhosa
Ou é fofo como um edredão de penas?
É cortante ou muito polido nos seus bordos?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Os nossos livros de história fazem-lhe referências
Em curtas notas crípticas,
É um assunto de conversa muito vulgar
Nos transatlânticos;
Descobri que o assunto era mencionado
Em relatos de suicidas,
E até o vi escrevinhado
Nas costas dos guias ferroviários.

Uiva como um cão de Alsácia esfomeado,
Ou ribomba como uma banda militar?
Poderá alguém fazer uma imitação perfeita
Com um serrote ou um Steinway de concerto?
O seu canto é estrondoso nas festas?
Ou gosta apenas de música clássica?
Interrompe-se quando queremos estar sossegados?
Ah! diz-me a verdade acerca do amor.

Espreitei a casa de verão,
E não estava lá,
Tentei o Tamisa em Maidenhead
E o ar tonificante de Brighton,
Não sei o que cantava o melro,
Ou o que a tulipa dizia;
Mas não estava na capoeira,
Nem debaixo da cama.

Fará esgares extraordinários?
Enjoa sempre num baloiço?
Passa todo o seu tempo nas corridas?
Ou a tocar violino em pedaços de cordel?
Tem ideias próprias sobre o dinheiro?
Pensa ser o patriotismo suficiente?
As suas histórias são vulgares mas divertidas?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor.

Chega sem avisar no instante
Em que meto o dedo no nariz?
Virá bater-me à porta de manhã,
Ou pisar-me os pés no autocarro?
Virá como uma súbita mudança de tempo?
O seu acolhimento será rude ou delicado?
Virá alterar toda a minha vida?
Ah, diz-me a verdade acerca do amor

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Um grito maldito: Paul Verlaine

O Amor no Chão

O vento da outra noite derrubou o Amor
Que, no mais misterioso recanto do parque,
Nos sorria, ao esticar malignamente o arco,
E cujo ar nos fez meditar com fervor!

O vento da outra noite derrubou-o! O mármore
com o sopro da manhã, disperso, gira. É triste
Olhar o pedestal, onde o nome do artista
Se lê com muito esforço à sombra de uma árvore,

É triste ver em pé, sozinho, o pedestal!
Melancólicos vêm e vão pensamentos
No meu sonho, onde o mais profundo sofrimento
Evoca um solitário futuro fatal.

É triste! — E mesmo tu, não é? ficas tocada
Plo cenário dolente, embora te divirtas
Com a borboleta rubra e de oiro, que se agita
Sobre a alameda, além, de destroços juncada.

Paul Verlaine, in "Festas Galantes"
Tradução de Fernando Pinto do Amaral

Um grito para Ana Paula Inácio: Tom Waits - you are innocent when you dream



The bats are in the belfry
the dew is on the moor
where are the arms that held me
and pledged her love before
and pledged her love before
Chorus:
It's such a sad old feeling
the fields are soft and green
it's memories that I'm stealing
but you're innocent when you dream
when you dream
you're innocent when you dream
Running through the graveyard
we laughed my friends and I
we swore we'd be together
until the day we died
until the day we died
Repeat chorus
I made a golden promise
that we would never part
I gave my love a locket
and then I broke her heart
and then I broke her heart
Repeat chorus

Outro grito maravilhoso: Bach

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Mais um grito de morte: Rilke e Pessoa



Se te Queres Matar

Se te queres matar, por que não te queres matar?
Ah, aproveita! que eu, que tanto amo a morte e a vida,
Se ousasse matar-me, também me mataria...
Ah, se ousares, ousa!
De que te serve o quadro sucessivo das imagens externas
A que chamamos o mundo?
A cinematografia das horas representadas
Por atores de convenções e poses determinadas,
O circo policromo do nosso dinamismo sem fím?
De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
Talvez, matando-te, o conheças finalmente...
Talvez, acabando, comeces...
E, de qualquer forma, se te cansa seres,
Ah, cansa-te nobremente,
E não cantes, como eu, a vida por bebedeira,
Não saúdes como eu a morte em literatura!

Fazes falta? Ó sombra fútil chamada gente!
Ninguém faz falta; não fazes falta a ninguém...
Sem ti correrá tudo sem ti.
Talvez seja pior para outros existires que matares-te...
Talvez peses mais durando, que deixando de durar...

A mágoa dos outros?... Tens remorso adiantado
De que te chorem?
Descansa: pouco te chorarão...
O impulso vital apaga as lágrimas pouco a pouco,
Quando não são de coisas nossas,
Quando são do que acontece aos outros, sobretudo a morte,
Porque é coisa depois da qual nada acontece aos outros...

Primeiro é a angústia, a surpresa da vinda
Do mistério e da falta da tua vida falada...
Depois o horror do caixão visível e material,
E os homens de preto que exercem a profissão de estar ali.
Depois a família a velar, inconsolável e contando anedotas,
Lamentando a pena de teres morrido,
E tu mera causa ocasional daquela carpidação,
Tu verdadeiramente morto, muito mais morto que calculas...
Muito mais morto aqui que calculas,
Mesmo que estejas muito mais vivo além...
Depois a trágica retirada para o jazigo ou a cova,
E depois o princípio da morte da tua memória.
Há primeiro em todos um alívio
Da tragédia um pouco maçadora de teres morrido...
Depois a conversa aligeira-se quotidianamente,
E a vida de todos os dias retoma o seu dia...

Depois, lentamente esqueceste.
Só és lembrado em duas datas, aniversariamente:
Quando faz anos que nasceste, quando faz anos que morreste.
Mais nada, mais nada, absolutamente mais nada.
Duas vezes no ano pensam em ti.
Duas vezes no ano suspiram por ti os que te amaram,
E uma ou outra vez suspiram se por acaso se fala em ti.

Encara-te a frio, e encara a frio o que somos...
Se queres matar-te, mata-te...
Não tenhas escrúpulos morais, receios de inteligência! ...
Que escrúpulos ou receios tem a mecânica da vida?

Que escrúpulos químicos tem o impulso que gera
As seivas, e a circulação do sangue, e o amor?

Que memória dos outros tem o ritmo alegre da vida?
Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem.
Não vês que não tens importância absolutamente nenhuma?

És importante para ti, porque é a ti que te sentes.
És tudo para ti, porque para ti és o universo,
E o próprio universo e os outros
Satélites da tua subjetividade objetiva.
És importante para ti porque só tu és importante para ti.
E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?

Tens, como Hamlet, o pavor do desconhecido?
Mas o que é conhecido? O que é que tu conheces,
Para que chames desconhecido a qualquer coisa em especial?

Tens, como Falstaff, o amor gorduroso da vida?
Se assim a amas materialmente, ama-a ainda mais materialmente,
Torna-te parte carnal da terra e das coisas!
Dispersa-te, sistema físico-químico
De células noturnamente conscientes
Pela noturna consciência da inconsciência dos corpos,
Pelo grande cobertor não-cobrindo-nada das aparências,
Pela relva e a erva da proliferação dos seres,
Pela névoa atômica das coisas,
Pelas paredes turbihonantes
Do vácuo dinâmico do mundo...

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa




A Canção do Suicida

Só mais um momento.
Que voltem sempre a cortar-me
a corda.
Há pouco estava tão preparado
e havia já um pouco de eternidade
nas minhas entranhas.

Estendem-me a colher,
esta colher de vida.
Não, quero e já não quero,
deixem-me vomitar sobre mim.

Sei que a vida é boa
e que o mundo é uma taça cheia,
mas a mim não me chega ao sangue,
a mim só me sobe à cabeça.

Aos outros alimenta-os, a mim põe-me doente;
compreendei que há quem a despreze.
Durante pelo menos mil anos
preciso agora fazer dieta.

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"
Tradução de Maria João Costa Pereira

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Grito 59: Luís Cernuda


Contigo

¿Mi tierra?
Mi tierra eres tú.

¿Mi gente?
Mi gente eres tú.

El destierro y la muerte
para mi están adonde
no estés tú.

¿Y mi vida?
Dime, mi vida,
¿qué es, si no eres tú?

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Outro grito de morte: Gabriela Mistral


Este largo cansancio se hará mayor un día
y el alma dirá al cuerpo que no quiere seguir
arrastrando su masa por la rosada vía
por donde van los hombres, contentos de vivir...

Sentirás que a tu lado cavan briosamente,
que otra dormida llega a la quieta ciudad.
Esperaré que me hayan cubierto totalmente...
¡y después hablaremos por una eternidad!

Sólo entonces sabrás el por qué, no madura
para las hondas huesas tu carne todavía,
tuviste que bajar, sin fatiga, a dormir.
Se hará luz en la zona de los sinos, oscura:
sabrás que en nuestra alianza signo de astros había
y, roto el pacto enorme, tenías que morir...






Um grito a mais: Diamanda Galas

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Grito 58: SARAH KANE 4.48 PSYCHOSIS 4


An instant of clarity before eternal night
don't let me forget
I am sad
I feel that the future is hopeless and that things cannot improve
I am bored and dissatisfied with everything
I am a complete failure as a person
I am guilty, I am being punished
I would like to kill myself
I used to be able to cry but now I am beyond tears
I have lost interest in other people
I can't make decisions
I can't eat
I can't sleep
I can't think
I cannot overcome my loneliness, my fear, my disgust
I am fat
I cannot write
I cannot love
My brother is dying, my lover is dying, I am killing them both
I am charging towards my death
I am terrified of medication
I cannot make love
I cannot fuck
I cannot be alone
I cannot be with others
My hips are too big
I dislike my genitals
At 4.48
when depression visits
I shall hang myself
to the sound of my lover's breathing
I do not want to die
I have become so depressed by the fact of my mortality that I have

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Um grito de morte: Florbela Espanca


Florbela Espanca

Amor que morre

O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Um grito de amor: David Mourão-Ferreira


Quem foi que à tua pele conferiu esse papel
de mais que tua pele ser pele da minha pele

David Mourão-Ferreira

domingo, 6 de novembro de 2011

Um grito triste: Viriginia Woolf


“As histórias que perseguem as pessoas até aos seus quartos de dormir são difíceis.”
Viriginia Woolf

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Um grito inominável

“Uma vez eu irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações. Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria. Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto — serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de ‘dois e dois são quatro’ é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou! Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo. Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto...”

Clarice Lispector: cartas, clarice lispector

sábado, 15 de outubro de 2011

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Um grito de desespero: Mário de Sá Carneiro



Vontade de Dormir

Fios d'ouro puxam por mim
A soerguer-me na poeira -
Cada um para o seu fim,
Cada um para o seu norte...

. . . . . . . . . . . . . . .

- Ai que saudade da morte...

. . . . . . . . . . . . . . .

Quero dormir... ancorar...

. . . . . . . . . . . . . . .

Arranquem-me esta grandeza!
- Pra que me sonha a beleza,
Se a não posso transmigrar?...

Mário de Sá-Carneiro, in 'Dispersão'

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Um grito de esperança: Prémio Nobel da Paz 2011


Três mulheres- a presidente da Libéria, Ellen Johnson Sirleaf, a também liberiana Leymah Gbowee e a activista iemenita Tawakkul Karman- foram laureadas com o Prémio Nobel da Paz de 2011.
Thorbjoern Jagland, presidente do comité do Nobel, argumentou que as laureadas foram "recompensadas pela sua luta não violenta pela segurança das mulheres e pelos seus direitos a participar nos processos de paz".
Ellen Johnson Sirleaf, de 72 anos, foi a primeira mulher a ser livremente eleita presidente de um país africano, em 2005. Economista e mãe de quatro filhos, a "Dama de Ferro" tenta a reeleição em pleito marcado para esta terça-feira.
A sua compatriota Leymah Gbowee teve um papel importante como activista durante a segunda guerra civil liberiana, em 2003. Ela mobilizou as mulheres do seu país para o fim da guerra, organizando inclusive uma "greve de sexo" em 2002. Também organizou as mulheres acima de suas divisões étnicas e tribais no país, ajudando a garantir os seus direitos políticos.
E Tawakkul Karman, ativista iemenita pró-direitos das mulheres, tem uma importante participação na chamada Primavera Árabe, movimento pró-abertura democrática que tem sacudido politicamente vários países do mundo árabe desde o início do ano.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Um grito de alegria: poema de Tomas Tranströmer

FUNCHAL
poema de Tomas Tranströmer



O restaurante do peixe na praia, uma simples barraca, construída por náufragos.

Muitos, chegados à porta, voltam para trás, mas não assim as rajadas de vento

do mar. Uma sombra encontra-se num cubículo fumarento e assa dois peixes,

segundo uma antiga receita da Atlântida, pequenas explosões de alho.

O óleo flui sobre as rodelas do tomate. Cada dentada diz que o oceano nos quer

bem, um zunido das profundezas.

Ela e eu: olhamos um para o outro. Assim como se trepássemos as agrestes colinas floridas, sem qualquer cansaço. Encontramo-nos do lado dos animais, bem-vindos, não

envelhecemos. Mas já suportámos tantas coisas juntos, lembramo-nos disso,

horas em que também de pouco ou nada servíamos ( por exemplo, quando

esperávamos na bicha para doar o sangue saudável – ele tinha prescrito uma

transfusão). Acontecimentos, que nos podiam ter separado, se não nos tivéssemos

unido, e acontecimentos que, lado a lado, esquecemos – mas eles não nos esqueceram!

Eles tornaram-se pedras, pedras claras e escuras, pedras de um mosaico desordenado.

E agora aconteceu: os cacos voam todos na mesma direcção, o mosaico nasce.

Ele espera por nós. Do cimo da parede, ele ilumina o quarto de hotel, um design,

violento e doce, talvez um rosto, não nos é possível compreender tudo, mesmo

quando tiramos as roupas.

Ao entardecer, saímos. A poderosa pata, azul escura, da meia ilha jaz,

expelida sobre o mar. Embrenhamo-nos na multidão, somos empurrados

amigavelmente, suaves controlos, todos falam, fervorosos, na língua

estranha. “um homem não é uma ilha”. Por meio deles fortalecemo-nos, mas

também por meio de nós mesmos. Por meio daquilo que existe em nós e que os

outros não conseguem ver. Aquela coisa que só se consegue encontrar a ela

própria. O paradoxo interior, a flor da garagem, a válvula contra a boa escuridão.

Uma bebida que borbulha nos copos vazios. Um altifalante que propaga o silêncio.

Um atalho que, por detrás de cada passo, cresce e cresce. Um livro que só no escuro

se consegue ler.

Um grito de alegria: Tomas Tranströmer


Tomas Tranströmer é um poeta, tradutor e psicólogo sueco.

A poesia de Tranströmer tem uma grande influência na Suécia e em todo o mundo, sendo ele o poeta sueco mais traduzido: os seus poemas estão traduzidos em mais de trinta línguas. Recebeu numerosos prémios literários, como por exemplo o Prémio Literário do Conselho Nórdico em 1990 e o Prémio Nobel da Literatura em 2011.

Tranströmer iniciou-se na poesia aos 23 anos de idade. O seu primeiro livro intitulava-se 17 dikter (17 poemas). Vive presentemente numa ilha, longe dos olhares do mundo e dos meios de comunicação. Foi psicólogo de profissão até 1990. Redigiu cerca de uma quinzena de obras numa longa carreira dedicada à escrita.

Em 1990 foi vítima de um acidente vascular cerebral que o deixou em parte afásico e hemiplégico. Continuou a escrever e publicou três obras, como "O Grande Enigma: 45 Haikus".

terça-feira, 4 de outubro de 2011

sábado, 1 de outubro de 2011

Um grito de saudades: William Butler Yeats


QUANDO FORES VELHA

Quando fores velha, grisalha, vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira, toma este livro,
Lê-o devagar, e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram os teus olhos, e com as suas sombras profundas;

Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;

Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.


William Butler Yeats

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Um grito de alívio

...eu estava assim...

... mas depois fiquei assim...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Um grito na vida: Woody Allen, Meia Noite em Paris


“”Midnight in Paris’ de Woody Allen – que para mim, foi um dos melhores filmes de Allen nos últimos 10 anos, ou mesmo dos últimos 20 – avalia o passado, mas preocupa-se com os limites dessa nostalgia. Mas em vez de reafirmar o quão bom foram os tempos antigos, ‘Midnight in Paris’ agarra-se a algo bem mais complicado e indefinido. Movie Line

sábado, 10 de setembro de 2011

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Grito 57


Achava que não podia ser magoada


Achava que não podia ser magoada;

achava que com certeza era

imune ao sofrimento —

imune às dores do espírito

ou à agonia.


Meu mundo tinha o calor do sol de Abril

Meus pensamentos, salpicados de verde e ouro.

Minha alma em êxtase, ainda assim

Conheceu a dor suave e aguda que só o prazer

pode conter.


Minha alma planava sobre as gaivotas

que, ofegantes, tão alto se lançando,

lá no topo pareciam roçar suas asas

farfalhantes no teto azul

do céu.


(Como é frágil o coração humano,

um latejar, um frémito,

um frágil, luzente instrumento

de cristal que chora

ou canta).


Então de súbito meu mundo escureceu

e as trevas encobriram minha alegria.

Restou uma ausência triste e doída

onde mãos sem cuidado tocaram

e destruíram

minha teia prateada de felicidade.


As mãos estacaram, atónitas.

Mãos que me amavam, choraram ao ver

os destroços do meu firmamento.


(Como é frágil o coração humano —

espelhado poço de pensamentos.

Tão profundo e trémulo instrumento

de vidro, que canta

ou chora.)



Sylvia Plath

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Um grito de esperança


Eu quero chegar aqui.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Um grito de revolta: A 19 de Agosto de 1936 Garcia de Lorca foi assassinado junto a Granada.


Federico Garcia de Lorca


Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!






quinta-feira, 18 de agosto de 2011

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

domingo, 14 de agosto de 2011

Grito 56

Amor


Amor, amor, amor, como não amam
os que de amor o amor de amar não sabem,
como não amam se de amor não pensam
os que de amar o amor de amar não gozam.
Amor, amor, nenhum amor, nenhum
em vez do sempre amar que o gesto prende
o olhar ao corpo que perpassa amante
e não será de amor se outro não for
que novamente passe como amor que é novo.
Não se ama o que se tem nem se deseja
o que não temos nesse amor que amamos,
mas só amamos quando amamos o acto
em que de amor o amor de amar se cumpre.
Amor, amor, nem antes, nem depois,
amor que não possui, amor que não se dá,
amor que dura apenas sem palavras tudo
o que no sexo é sexo só por si amado.
Amor de amor de amar de amor tranquilamente
o oleoso repetir das carnes que se roçam
até ao instante em que paradas tremem
de ansioso terminar o amor que recomeça.
Amor, amor, amor, como não amam
os que de amar o amor de amar o amor não amam.



Jorge de Sena, Peregrinatio ad loca infecta (1969)

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Um grito a dois: Jorge Pinheiro


Nasceu em Coimbra. Diplomado em pintura pela Escola Superior de Belas Artes do Porto, onde exerceu funções de professor até 1975, data em que se mudou para Lisboa. Fez parte do grupo “Os Quatro Vintes” fundado em 1968, com Angelo de Sousa, Armando Alves e José Rodrigues. Em 1957 realizou a sua primeira exposição individual, seguindo-se uma série de intervenções de que se destacam as organizadas por aquele grupo entre 1968 e 1971.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Um grito em forma de livro: Hoje preferia não me ter encontrado, Herta Müller


Na viagem de eléctrico que a leva às instalações da Polícia Secreta, hora marcada, dez em ponto, a jovem narradora vê a sua vida passada em revista: a infância na cidade de província, a fixação semierótica no pai, a deportação dos avós, o casamento ingénuo com o filho do «comunista perfumado», a felicidade precária que vive com Paul, apesar do fardo que a bebida impõe ao amor que ela lhe dedica.

Quase chegada ao destino, levanta-se de repente uma altercação no carro eléctrico que leva o guarda-freio a saltar precisamente a paragem em que devia sair. Vê-se numa rua desconhecida, onde descobre Paul com um velho de aspecto suspeito. Decide então não comparecer ao interrogatório.


terça-feira, 9 de agosto de 2011

Um grito apenas: Carly Simon



Nobody does it better
Makes me feel sad for the rest
Nobody does it half as good as you
Baby, you're the best

I wasn't lookin' but somehow you found me
It tried to hide from your love light
But like heaven above me
The spy who loved me
Is keepin' all my secrets safe tonight

And nobody does it better
Though sometimes I wish someone could
Nobody does it quite the way you do
Why'd you have to be so good?

The way that you hold me
Whenever you hold me
There's some kind of magic inside you
That keeps me from runnin'
But just keep it comin'
How'd you learn to do the things you do?

Oh, and nobody does it better
Makes me feel sad for the rest
Nobody does it half as good as you
Baby, baby, darlin', you're the best

Baby you're the best
Darlin', you're the best
Baby you're the best

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Grito 55

it's all right, ma...

Está tudo bem, mãe,
estou só a esvair-me em sangue,
o sangue vai e vem,
tenho muito sangue.

Não tenho é paciência,
nem tempo que baste
(nem espaço, deixaste-me
pouco espaço para tanta existência).

Lembranças a menos
faziam-me bem,
e esquecimento também
e sangue e água a menos.

Teria cicatrizado
a ferida do lado,
e eu ressuscitado
pelo lado de dentro.

Que é o lado
por onde estou pregado,
sem mandamento
e sem sofrimento.

Nas tuas mãos
entrego o meu espírito,
seja feita a tua vontade,
e por aí adiante.

Que não se perturbe
nem intimide
o teu coração,
estou só a morrer em vão.


Manuel António Pina

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Um grito a dois: Canaletto


Canaletto is known as one of the most famous artists in Venice, that became for his innovative landscapes. What made him being so popular in this field is his printmaking in etching. He was born in Venice, on 28th of October in 1697. His parents were Bernardo and Artemisia Barbieri. He started his career as a theatrical scene painter, which has been one of the things that such talent artists have done at 17th century in Venice.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Novo grito contra o esquecimento: Museu Judaico de Berlim, de Daniel Libeskind




O Museu Judaico de Berlim (Jüdisches Museum Berlin) é um museu situado em Berlim e que cobre a história dos judeus alemães ao longo de dois milénios. Este museu foi fundado no ano de 1933 em Oranienburger Straße (Berlim) e foi encerrado em 1938 pelo Regime nazi. Daniel Libeskind desenhou um novo edifício para o novo museu que abriu as suas portas em 2001.

domingo, 31 de julho de 2011

Novo grito conta o esquecimento: Memorial aos Judeus Mortos da Europa, Berlim, de Peter Eisenman

O Memorial aos Judeus Mortos da Europa (em alemão: Denkmal für die ermordeten Juden Europas), também conhecido por Memorial do Holocausto (alemão: Holocaust-Mahnmal), é um memorial em Berlim para vítimas judias do Holocausto, projetado pelo arquiteto Peter Eisenman e engenheiros do Buro Happold. Consiste de uma área de 19.000 metros quadrados (4,7 acres) coberta com 2.711 blocos de concreto ou "stelae", parecendo com um campo ondulado de pedras.


Um grito contra o esquecimento: Capela da Reconciliação, Berlim, de Rudolf Reitermann e Peter Sassenroth



Junto da capela encontramos a Reconciliation, de Josefina de Vasconcellos

sábado, 23 de julho de 2011

Um grito de tristeza: morreu Amy Winehouse


Lyrics to You Know I'm No Good :

Meet you downstairs in the bar and hurt,
Your rolled up sleeves in your skull t-shirt,
You say “what did you do with him today?”,
And sniffed me out like I was Tanqueray,
’Cause you're my fella, my guy,
Hand me your stella and fly,
By the time I'm out the door,
You tear men down like Roger Moore,

I cheated myself,
Like I knew I would,
I told you I was trouble,
You know that I'm no good,

Upstairs in bed, with my ex boy,
He's in a place, but I can't get joy,
Thinking on you in the final throes,
This is when my buzzer goes,
Run out to meet you, chips and pitta,
You say “when we married”,
'cause you're not bitter,
”There'll be none of him no more,”
I cried for you on the kitchen floor,

I cheated myself,
Like I knew I would,
I told you I was trouble,
You know that I'm no good,

Sweet reunion, Jamaica and Spain,
We're like how we were again,
I'm in the tub, you on the seat,
Lick your lips as I soak my feet,
Then you notice likkle carpet burn,
My stomach drops and my guts churn,
You shrug and it's the worst,
Who truly stuck the knife in first

I cheated myself,
Like I knew I would
I told you I was trouble,
You know that I'm no good,

I cheated myself,
Like I knew I would
I told you I was trouble,
Yeah, you know that I'm no good

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Um grito de tristeza: morreu Lucian Freud


O artista britânico Lucian Freud, neto do fundador da psicanálise, Sigmund Freud, morreu aos 88 anos.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Grito 54

songwriters: Coots, Lewis

For all we know
We may never meet again
Before we go
Make this moment live again
We won't say goodbye
Until the last minute
I'll hold out my hand
And my heart will be in it

For all we know
This might only be a dream
We come and we go
Like the ripples, like the ripples in the stream
So baby, love me, love me tonight
Tomorrow was made for some
Oh, but tomorrow
But tomorrow may never, never come
For all we know
Yes, tomorrow may never, never come
For all we know

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Um grito na vida: David Lean, A Filha de Ryan


No ano de 1916, numa cidade irlandesa à beira-mar, Rosy Ryan casa-se com o seu ex-professor, o viúvo Charles Shaughnessy, mas logo descobre que ele não tem interesse por sexo. O Major Randolph Doryan, soldado britânico com traumas de guerra, chega à cidade para ajudar a controlar o contacto entre o Exército Republicano Irlandês e os alemães. Ele e Rosy apaixonam-se e começam a encontrar-se em locais afastados da cidade. Michael, deficiente mental, descobre o caso e depressa o anuncia a toda a população. Quando o líder do IRA aparece na região, o pai de Rosy denuncia-o à polícia com a intenção de manter a paz da cidadezinha, mas os habitantes da cidade acreditam que Rosy é a traidora, em função de seu relacionamento com Randolph.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Grito 53

EU VINHA POR UM POUCO DE VIDA

Eu vinha pela frescura da seda,
pela promessa da água na tua boca
limpa como um alvéolo, como uma fonte.
Eu vinha pela hospitalidade dos teus braços
abertos sobre as dunas, sobre as camas,
sobre a areia macia das paixões furtivas.
Eu vinha pela sede e pela aventura,
com a desabrida idade dos corsários,
dos animais enleantes ziguezagueando
pelo meio dos juncos e das pedras.
Eu vinha pela desordem dos planetas
no meu livro dos mistérios do céu,
no meu mapa dos assombros da alma.
Eu vinha pelo doce veneno de uma língua
semeando no meu corpo os sinais de perdição.
Eu vinha com o sal nos olhos, ardendo
com o lume a queimar-me a fala
e pedia à água para ser chuva
e à chuva, num repente, para ser mar.
Eu vinha por um pouco de vida, só um pouco,
no tumulto da minha existência de papel.

José Jorge Letria | “Quem com ferro ama”

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Um grito de tristeza: Roland Petit


O bailarino e coreógrafo francês Roland Petit, criador de mais de uma centena de bailados, morreu hoje, em Genebra, na Suíça, aos 87 anos, informou a Ópera de Paris.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

quarta-feira, 6 de julho de 2011

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Grito 51

Mário Dionísio

Casa deserta

Ah nada pior que a casa deserta,
sozinha, sozinha.

O fogão apagado e tudo sem interesse.
O mundo lá longe, para lá da floresta.
E o vento soprando
a chuva caindo
a casa deserta…

Ah nada pior que estes dias e dias,
de cachimbo aceso, com as mãos inertes,
com todas as estradas inteiramente barradas,
ouvindo a floresta.
Com tudo lá longe, na casa deserta,
o vento soprando
e a chuva caindo, na noite caindo…

Há uma cancela que range nos gonzos
um velho cão de guarda que ladra sem motivo -
parece que é gente que vem a entrar…

E é só vento soprando, soprando
e a chuva caindo…

Mudaram muita vez as folhas da floresta.
Os olhos do homem são olhos de doido.
Fogão apagado, aceso o cachimbo, o mundo lá longe.

E o vento soprando
a chuva caindo
a casa deserta…

domingo, 3 de julho de 2011