quinta-feira, 31 de maio de 2012

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Grito 71: Filipa Leal

A CIDADE LÍQUIDA

A cidade movia-se como um barco. Não. Talvez o chão se abrisse em algum lado. Não. Era a tontura. A despedida. Não. A cidade talvez fosse de água. Como sobreviver a uma cidade líquida?

(Eu tentava sustentar-me como um barco.)

As aves molhavam-se contra as torres. Tudo evaporava: os sinos, os relógios, os gatos, o solo. Apodreciam os cabelos, o olhar. Havia peixes imóveis na soleira das portas. Sólidos mastros que seguravam as paredes das coisas. Os marinheiros invadiam as tabernas. Riam alto do alto dos navios. Rompiam a entrada dos lugares. As pessoas pescavam dentro de casa. Dormiam em plataformas finíssimas, como jangadas. A náusea e o frio arroxeavam-lhes os lábios. Não viam. Amavam depressa ao entardecer. Era o medo da morte. A cidade parecia de cristal. Movia-se com as marés. Era um espelho de outras cidades costeiras. Quando se aproximava, inundava os edifícios, as ruas. Acrescentava-se ao mundo. Naufragava-o. Os habitantes que a viam aproximar-se ficavam perplexos a olhá-la, a olhar-se. Morriam de vaidade e de falta de ar. Os que eram arrastados agarravam-se ao que restava do interior das casas. Sentiam-se culpados. Temiam o castigo. Tantas vezes desejaram soltar as cordas da cidade. Agora partiam com ela dentro de uma cidade líquida.

(Eu ficara exactamente no lugar de onde saiu.)


terça-feira, 29 de maio de 2012

Grito 70: Intelligent Life- Shouryya Ray

Shouryya Ray está já a fazer os exames para a faculdade, estuda numa escola secundária de Dresden, na Alemanha, mas é originário da India. Desde pequeno que o seu pai, engenheiro, estimula Ray na matemática. Aos dez anos, já resolvia equações complexas.


O estudante chegou há quatro anos à Alemanha e destacou-se na escola devido às suas capacidades. Numa visita à Universidade de Dresden, ficou a conhecer um enigma lançado por Newton, no século XVII.

O problema é sobre a trajectória de uma bola lançada com um movimento em arco, tendo em conta a resistência do ar. Normalmente, os cálculos desprezam esta resistência, e só os programas de computadores mais sofisticados conseguem aproximar-se de uma solução que tem em conta este factor.

Durante a visita, disseram-lhe que era impossível solucionar este problema. Shouryya Ray discordou. “Perguntei a mim próprio: ‘Por que não?’”, contou, citado pelo jornal Daily Mail. “Acho que foi apenas a ingenuidade de um jovem estudante. Não acreditei que não pudesse haver uma solução.”

Apesar de lhe chamarem génio, o jovem recusa essa catalogação, já que sente ter limitações noutras áreas, como no desporto.

Além do problema de Newton, Shouryya Ray conseguiu solucionar outro problema matemático, que surgiu no século XIX, sobre a colisão de uma partícula numa parede.



segunda-feira, 28 de maio de 2012

Um grito fantástico: Pavillon de Thé, Joana Vasconcelos

Um grito de suspeita: Gunter Grass

O poema de Gunter Grass para a Grécia
A vergonha da Europa
À beira do caos porque fora da razão dos mercados,
Tu estás longe da terra que te serviu de berço.

O que buscou a Tua alma e encontrou
rejeita-lo Tu agora, vale menos do que sucata.

Nua como o devedor no pelourinho sofre aquela terra
a quem dizer que devias era para Ti tão natural como falar.

À pobreza condenada a terra da sofisticação
e do requinte que adornam os museus: espólio que está à Tua cura.

Os que com a força das armas arrasaram o país de ilhas
abençoado levavam com a farda Hölderlin na mochila.

País a custo tolerado cujos coronéis
toleraste outrora na Tua Aliança.

Terra sem direitos a quem o poder
do dogma aperta o cinto mais e mais.

Trajada de negro, Antígona desafia-te e no país inteiro
o povo cujo hóspede foste veste-se de luto.

Contudo os sósias de Creso foram em procissão entesourar
fora de portas tudo o que tem a luz do ouro.

Bebe duma vez, bebe! grita a claque dos comissários,
mas Sócrates devolve-Te, irado, a taça cheia até à borda.

Os deuses amaldiçoarão em coro quem és e o que tens
se a Tua vontade exige a venda do Olimpo.

Sem a terra cujo espírito Te concebeu, Europa,
murcharás estupidamente.

(Gunter Grass, tradução de Carlos Leite, tirado do blog "duas ou três coisas")

sexta-feira, 25 de maio de 2012

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Um grito de emoção: Manoel de Barros

Manoel de Barros é, aos 95 anos, uma dupla estreia no Prémio de Literatura Casa da América Latina/Banif. Instituído em 2005 com o intuito de distinguir obras de autores latino-americanos vivos publicadas em Portugal, o galardão ainda não tinha na lista de vencedores qualquer livro de poesia, ou qualquer autor brasileiro. Mas o autor de Livro sobre Nada fez questão de agradecer com um poema inédito.




Poema inédito



Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de graças!


Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens.

Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar.

A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra.

Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica.



terça-feira, 22 de maio de 2012

Um grito na vida: Polanski

Uma Terapia,que Polanski realizou para a Prada,serviu para o cineasta provar que “podia fazer curtas tão bem quanto longas”.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Um grito de luto C: João Miguel Rodrigues

O actor e encenador João Miguel Rodrigues, de 44 anos, morreu neste domingo à tarde, no Hospital de S. José, em Lisboa, vítima de derrame cerebral.

Um grito de luto B: France Clidat

Um grito de luto A: Robin Gibb, Bee Gees

domingo, 20 de maio de 2012

Um grito fantástico: Sobejano Architects S.L.P, Fuensanta Nieto & Enrique Sobejano

O prémio europeu para o melhor museu em 2012 foi atribuído ao Museu Madinat al-Zahra, da cidade espanhola de Córdova.



quinta-feira, 17 de maio de 2012

terça-feira, 15 de maio de 2012

Outro grito de luto: Carlos Fuentes

Em A morte de Artemio Cruz , Carlos Fuentes revela-nos os processos mentais de um velho que já não é capaz de valer-se a si mesmo e que se encontra perante a morte iminente e indigna.
A técnica narrativa consiste em intercalar o passado, o presente e o futuro da personagem, tendo como pano de fundo a Revolução Mexicana de 1910. O presente narrativo passa-se na década de 1950.

A história começa quando Artemio Cruz sofre um ataque. No seu leito de morte, recusa a extrema-unção do padre, sabendo que há muito tempo tinha deixado de lado a fé. Procura incessantemente prolongar um pouco mais o seu martírio. Mãe e filha, à beira do leito do moribundo, estão preocupadas com o testamento do velho, que até ao momento não lhes havia dito nada sobre isso.


Um grito de luto: Gastão Cruz

Sobre a Cama de Roupa o teu Cadáver

Sobre a cama de roupa o teu cadáver
do corpo morto não inerte ou vivo
do corpo não contente ou triste ou vivo
de morto não inerte ou de cadáver

sobre a cama de roupa morto ou vivo
sobre o teu corpo morto de cadáver
à luz do corpo vivo de cadáver
descontente ou alegre morto ou vivo

como pude chorar ou morto ou vivo
sob a chuva da morte do cadáver
do corpo morto teu ou como vivo

pude olhar-te e chorar-te e o cadáver
sobre a cama de roupa inerte ou vivo
do teu corpo e de morto o teu cadáver

Gastão Cruz, in "Escassez"

segunda-feira, 14 de maio de 2012

sexta-feira, 11 de maio de 2012

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Um grito a dois: Lichtenstein

O quadro “Sleeping Girl” do artista norte-americano Roy Lichtenstein foi vendido por 44,8 milhões de dólares (34,4 milhões de euros) no leilão de arte contemporânea da Soltheby’s, de Nova Iorque.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

terça-feira, 8 de maio de 2012

domingo, 6 de maio de 2012

Um grito na vida: Dominga Sotomayor

De Jueves a Domingo de Dominga Sotomayor e Jesus por um Dia de Helena Inverno e Verónica Castro são os vencedores da competição da nona edição do IndieLisboa.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

quarta-feira, 2 de maio de 2012

terça-feira, 1 de maio de 2012