Manoel de Barros é, aos 95 anos, uma dupla estreia no Prémio de Literatura Casa da América Latina/Banif. Instituído em 2005 com o intuito de distinguir obras de autores latino-americanos vivos publicadas em Portugal, o galardão ainda não tinha na lista de vencedores qualquer livro de poesia, ou qualquer autor brasileiro. Mas o autor de Livro sobre Nada fez questão de agradecer com um poema inédito.
Poema inédito
Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores, de brisas e de graças!
Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente andava atoamente em nossas origens.
Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não queria significar, mas só cantar.
A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa ajoelhada na pedra.
Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma formiga é mais importante para a humanidade do que a Bomba Atômica.
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