Público dixit:
Foi em 1989 que Rushdie publicou Os Versículos Satânicos, que o então líder religioso do Irão, o ayatolah Khomeini, considerou blasfemo e lançou uma fatwa contra o escritor. Ou seja, uma pena de morte.
Rushdie viveu os nove anos que se seguiram escondido e passou a usar um pseudónimo, Joseph Anton, que junta os nomes dos seus escritores favoritos, Anton Chekov e Joseph Conrad. Os seguranças que o acompanharam todo esse tempo, chamavam-lhe Joe.
O livro, em Portugal editado pela D. Quixote, está escrito na terceira pessoa e é uma crónica dos dias seguidos de dias iguais, sempre protegido por seguranças armados, que o escritor britânico de origem indiana passou.
O livro abre com o momento em que o escritor recebeu um telefonema de um jornalista (cujo nome não recorda), a dizer que a sua cabeça estava a prémio."Isto não pode ser bom", pensou. "Sou um homem morto", recordou numa entrevista à BBC.
O édito religioso ordenando a morte de Rushdie abriu um debate sobre liberdade de expressão e religião, debate que voltou às primeiras páginas dos jornais devido ao filme americano que troça do profeta Maomé. Os teores - da obra literária e do filme provocatório - não são comparáveis, mas o mundo muçulmano está em revolta.
"O filme é claramente um bocado de lixo, é muito mal feito e é maldoso. Reagir com esta violência é inapropriado. As pesosas que não tiveram nada a ver com aquilo estão a ser atacadas (...) Mas eu sempre disse que o que me aconteceu era um prólogo e que iriam aparecer muitos mais casos", disse Rushdie ao Daily Telegraph.
Nas 633 páginas do muito aguardado livro, Salman Rushdie, através de Joseph Anton, recorda o tempo em que estudou em Cambridge, o início da carreira literária, o dia em que recebeu o Booker Prize pelo livro Os Filhos da Meia Noite (1981) e de escrever Os Versículos Satânicos, oito anos depois, pensando "é só mais um romance".
Nos anos em que esteve "preso", houve violência nas ruas devido ao seu livro e à decisão do ayatolah, o seu tradutor japonês foi esfaqueado e morreu, um líder muçulmano que criticou a fatwa foi assassinado na Bélgica.
Apesar de o livro só hoje ter chegado às livrarias, os críticos já sentenciaram sobre esta nova obra. "Joseph Anton demonstra a habilidade de Rushdie como estilista e contador de histórias", escreveu Michael C. Moynihan no The Wall Street Journal. No Guardian Pankaj Mishra, menos impressionada, falou em "análise falhada".
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