quarta-feira, 31 de outubro de 2012
terça-feira, 30 de outubro de 2012
Grito 83: Fernando Guimarães
ACERCA DE UMA ARANHA
O que se pode dizer? Falemos da sua leveza, dessa espécie de gesto
que a sustenta no ar. Permanece sozinha, para que se encontre
a si mesma. À sua frente estão múltiplos caminhos, mas escolhe
apenas um. Ela procura o centro de qualquer coisa. Aí fica
à espera, atenta como nós quando lemos um livro. Talvez esteja perto
daquilo que há muito se ignorava, de um segredo que a teia
lhe pode revelar quando estremece. Solta-se dela um fio
maior para que a luz venha ao seu encontro. Oscila um pouco
e afasta-se lentamente. É outra a página que se lê agora.
[in As Raízes Diferentes, Relógio d'Água, 2011]
Post Coitum Animal TristeEm ti o poema, o amplo tecido da água ou a forma
do segredo. Outrora conheceste a margem abandonada
do desejo, a sua extensão e principias a entregar
os vasos alongados para receberes as mãos das chuvas.
Apagaram-se junto dos teus olhos as praias, as árvores
que se ergueram um dia sobre as estradas romanas,
o vestígio dos últimos peregrinos, aves nuas
que já desceram, cansadas, pelo interior do teu peito.
Uma voz, no silêncio calmo das águas, esquece
a mentira das primeiras colheitas, onde os nossos gestos
perderam os sorrisos ou o orvalho que os cerca.
Serenamente, começaram a fechar-se os sonhos de Deus
no interior de novos frutos e, abandonado, fico
junto do teu corpo, onde principia a sombra deste poema.
Fernando Guimarães, in “Poesias Completas”
O que se pode dizer? Falemos da sua leveza, dessa espécie de gesto
que a sustenta no ar. Permanece sozinha, para que se encontre
a si mesma. À sua frente estão múltiplos caminhos, mas escolhe
apenas um. Ela procura o centro de qualquer coisa. Aí fica
à espera, atenta como nós quando lemos um livro. Talvez esteja perto
daquilo que há muito se ignorava, de um segredo que a teia
lhe pode revelar quando estremece. Solta-se dela um fio
maior para que a luz venha ao seu encontro. Oscila um pouco
e afasta-se lentamente. É outra a página que se lê agora.
[in As Raízes Diferentes, Relógio d'Água, 2011]
Post Coitum Animal TristeEm ti o poema, o amplo tecido da água ou a forma
do segredo. Outrora conheceste a margem abandonada
do desejo, a sua extensão e principias a entregar
os vasos alongados para receberes as mãos das chuvas.
Apagaram-se junto dos teus olhos as praias, as árvores
que se ergueram um dia sobre as estradas romanas,
o vestígio dos últimos peregrinos, aves nuas
que já desceram, cansadas, pelo interior do teu peito.
Uma voz, no silêncio calmo das águas, esquece
a mentira das primeiras colheitas, onde os nossos gestos
perderam os sorrisos ou o orvalho que os cerca.
Serenamente, começaram a fechar-se os sonhos de Deus
no interior de novos frutos e, abandonado, fico
junto do teu corpo, onde principia a sombra deste poema.
Fernando Guimarães, in “Poesias Completas”
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
domingo, 28 de outubro de 2012
quinta-feira, 25 de outubro de 2012
quarta-feira, 24 de outubro de 2012
terça-feira, 23 de outubro de 2012
segunda-feira, 22 de outubro de 2012
domingo, 21 de outubro de 2012
sábado, 20 de outubro de 2012
Um grito maravilhoso: Rodriguez
sexta-feira, 19 de outubro de 2012
Um grito de talento profundo: Manuel António Pina
“Não é o fim nem o princípio do mundo, calma é apenas um pouco tarde”
A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.
E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em fundos sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.
Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.
Manuel António Pina, in “Algo Parecido Com Isto, da Mesma Substância”
Ninguém me roubará algumas coisas,
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.
É a sua morte que eu vivo eternamente
quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.
Serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?
Manuel António Pina, in "Nenhum Sítio"
A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.
E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em fundos sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.
Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.
Manuel António Pina, in “Algo Parecido Com Isto, da Mesma Substância”
Ninguém me roubará algumas coisas,
nem acerca de elas saberei transigir;
um pequeno morto morre eternamente
em qualquer sítio de tudo isto.
É a sua morte que eu vivo eternamente
quem quer que eu seja e ele seja.
As minhas palavras voltam eternamente a essa morte
como, imóvel, ao coração de um fruto.
Serei capaz
de não ter medo de nada,
nem de algumas palavras juntas?
Manuel António Pina, in "Nenhum Sítio"
quinta-feira, 18 de outubro de 2012
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
Um grito em forma de livro: Bring up the Bodies, Hilary Mantel
A escritora Hilary Mantel venceu o Prémio Man Booker 2012 com o seu romance “Bring up the Bodies”. É a primeira mulher e também o primeiro cidadão britânico a recebê-lo duas vezes.
terça-feira, 16 de outubro de 2012
segunda-feira, 15 de outubro de 2012
domingo, 14 de outubro de 2012
Um grito de dor: Vinicius de Moraes
Soneto da separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
sábado, 13 de outubro de 2012
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Um grito de talento: Mo Yan, Nobel da Literatura 2012
Aos 57 anos, a obra do escritor chinês Mo Yan tem gerado alguma polémica na China. Mo Yan significa "não fales" e é o grande vencedor do Nobel da Literatura 2012.
A Academia Sueca destaca o realismo alucinante do autor que combina os contos populares, a história e a contemporaneidade. Mo Yan é conhecido como o Kafka chinês.
O único livro de Mo Yan editado em Portugal dá pelo título "Peito Grande, Ancas Largas". Um livro muito polémico na China, no qual as mulheres surgem como fortes e corajosas. Nascido em 1956, Mo Yan é um dos escritores chineses contemporâneos mais publicados fora da China, nomeadamente no Japão, França, Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos.
"Ele é o mais qualificado escritor chinês para ganhar o Nobel", disse Yang Xiaobin, um poeta e critico citado hoje por um jornal de Pequim e que há vários anos vinha "recomendando" a atribuição do prémio a Mo Yan.
Os romances do escritor chinês galardoado hoje com o Prémio Nobel da Literatura, estão enraizados na China rural, onde nasceu, mas revelam também influências do "realismo mágico" e outras correntes ocidentais, dizem críticos e tradutores.
William Faulkner, Gabriel Garcia Marquez, Oe Kenzaburo e Rabelais são os autores preferidos de Mo Yan, disse o professor norte-americano Howard Goldblatt, um dos mais conhecidos tradutores de literatura chinesa, entre os quais três títulos do autor distinguido agora pela Academia Sueca.
Mo Yan (pseudónimo literário de Guan Moye) nasceu na província de Shandong, leste da China, "no seio de uma família pobre" e "foi forçado a abandonar a escola primária durante a Revolução Cultural (1966-76)", diz o Dicionário Biográfico de Modernos Escritores Chineses, publicado na década de 1990.
Segundo a mesma biografia, o futuro escritor tornou-se então camponês e aos 20 anos, ingressou no Exército, onde "serviu como funcionário de segurança e instrutor político e de propaganda".
A sua primeira obra literária, um conto que começou a escrever enquanto ainda era soldado, saiu em 1981. Seis anos depois publicou um romance de grande sucesso, "Red Sorghum", que seria adaptado ao cinema por Zhang Yimou. O filme, com Gong Li e Jiang Wen, ganhou o Urso de Ouro do Festival Internacional de Berlim em 1988.
Entre os títulos que Mo Yan publicou a seguir figuram "The Republic of Wine" (2000), "Peito grande, ancas largas" (2007) - único editado em Portugal, pela Ulisseia - e "Life and Death are Wearinng me out", todos traduzidos por Howard Golblatt, professor de chinês na Universidade de Notre Dame, nos Estados Unidos.
Em 2011, Mo Yan ganhou o Premio Mao Dun, o mais importante galardão literário oficial do país, e foi eleito vice-presidente da Associação dos Escritores da China.
O seu mais recente romance, "Frog", aborda um tema especialmente sensível: a prática de abortos forçados na China devido à drástica política de controlo da natalidade imposta há três décadas sob a fórmula "um casal, um filho".
quarta-feira, 10 de outubro de 2012
terça-feira, 9 de outubro de 2012
segunda-feira, 8 de outubro de 2012
Um grito de talento: Nobel da Medicina para descoberta de que células adultas podem voltar a ser estaminais
O britânico John Gurdon e o japonês Shinya Yamanaka ganharam o Nobel da Medicina de 2012 pela descoberta de que as células adultas, já especializadas num órgão, podem ser reprogramadas para voltar a um passado em que têm as características das células estaminais dos embriões. E, a partir daí, conseguem voltar a originar todos os tecidos do organismo. O anúncio foi feito esta manhã pela Assembleia Nobel do Instituto Karolinska, na Suécia.
John Gurdon nasceu em 1933 em Dippenhall, no Reino Unido, e é professor no Instituto Gurdon em Cambridge. Quanto a Shinya Yamanaka, nasceu em 1962 em Osaka e é actualmente professor na Universidade de Quioto. A importância do seu trabalho prende-se, em última análise, com a medicina regenerativa. O derradeiro sonho é pegar numa célula adulta de um paciente, transformá-la numa célula estaminal e, em seguida, levá-la a tornar-se numa célula do órgão que está doente para, assim, o “reparar”.
O trabalho de John Gurdon remonta à década de 1960, quando o investigador decidiu fazer experiências com rãs. Numa experiência que se tornou clássica, em 1962, o cientista retirou o núcleo a um ovócito de uma rã e, em seu lugar, colocou o núcleo de uma célula adulta dos intestinos. Surpreendentemente, este ovócito modificado desenvolveu-se e foi capaz de dar origem a uma rã.
John Gurdon tinha assim descoberto que as células adultas, já especializadas – que se tornaram uma célula da pele ou do coração, por exemplo –, podiam ter a sua especialização revertida. O ADN de uma célula adulta e madura, neste caso da rã, ainda tinha a informação necessária para conseguir originar todas as células da rã, tal como ocorre nas células que existem nos embriões.
Inicialmente, os resultados de Gurdon foram recebidos com cepticismo pela comunidade científica, mas, à medida que começaram a ser reproduzidos por outras equipas, acabaram por ser aceites, explica o comunicado do comité Nobel.
Gurdon tinha utilizado o núcleo inteiro de uma célula adulta. Mas seria possível fazer voltar atrás no tempo uma célula adulta inteira, sem recorrer a um ovócito, reprogramando directamente o ADN da célula especializada de maneira a que pudesse dar origem a todas as células do organismo? No fundo, seria possível tornar uma célula adulta numa célula estaminal embrionária, fazendo-a regressar literalmente à infância? Décadas depois, em 2006, Shinya Yamanaka conseguiu dar esse passo, considerado logo na altura um grande avanço.
O cientista japonês identificou, nas células estaminais embrionárias, os genes que as mantinham imaturas e capazes de originar todas as outras. Introduzindo apenas quatro genes em células adultas (fibroblastos), ele e a sua equipa transformaram-nas em células estaminais. Ficaram conhecidas como células estaminais pluripotentes induzidas.
“Esta jornada de uma célula imatura para uma célula especializada era antes considerada unidireccional. Considerava-se que a célula mudava de tal forma durante a maturação que era impossível voltar a um estádio imaturo, pluripotente”, refere o comunicado da Assembleia Nobel do Instituto Karolinska. “As descobertas [dos dois cientistas] revolucionaram a nossa compreensão de como as células e o organismo se desenvolvem.”
John Gurdon nasceu em 1933 em Dippenhall, no Reino Unido, e é professor no Instituto Gurdon em Cambridge. Quanto a Shinya Yamanaka, nasceu em 1962 em Osaka e é actualmente professor na Universidade de Quioto. A importância do seu trabalho prende-se, em última análise, com a medicina regenerativa. O derradeiro sonho é pegar numa célula adulta de um paciente, transformá-la numa célula estaminal e, em seguida, levá-la a tornar-se numa célula do órgão que está doente para, assim, o “reparar”.
O trabalho de John Gurdon remonta à década de 1960, quando o investigador decidiu fazer experiências com rãs. Numa experiência que se tornou clássica, em 1962, o cientista retirou o núcleo a um ovócito de uma rã e, em seu lugar, colocou o núcleo de uma célula adulta dos intestinos. Surpreendentemente, este ovócito modificado desenvolveu-se e foi capaz de dar origem a uma rã.
John Gurdon tinha assim descoberto que as células adultas, já especializadas – que se tornaram uma célula da pele ou do coração, por exemplo –, podiam ter a sua especialização revertida. O ADN de uma célula adulta e madura, neste caso da rã, ainda tinha a informação necessária para conseguir originar todas as células da rã, tal como ocorre nas células que existem nos embriões.
Inicialmente, os resultados de Gurdon foram recebidos com cepticismo pela comunidade científica, mas, à medida que começaram a ser reproduzidos por outras equipas, acabaram por ser aceites, explica o comunicado do comité Nobel.
Gurdon tinha utilizado o núcleo inteiro de uma célula adulta. Mas seria possível fazer voltar atrás no tempo uma célula adulta inteira, sem recorrer a um ovócito, reprogramando directamente o ADN da célula especializada de maneira a que pudesse dar origem a todas as células do organismo? No fundo, seria possível tornar uma célula adulta numa célula estaminal embrionária, fazendo-a regressar literalmente à infância? Décadas depois, em 2006, Shinya Yamanaka conseguiu dar esse passo, considerado logo na altura um grande avanço.
O cientista japonês identificou, nas células estaminais embrionárias, os genes que as mantinham imaturas e capazes de originar todas as outras. Introduzindo apenas quatro genes em células adultas (fibroblastos), ele e a sua equipa transformaram-nas em células estaminais. Ficaram conhecidas como células estaminais pluripotentes induzidas.
“Esta jornada de uma célula imatura para uma célula especializada era antes considerada unidireccional. Considerava-se que a célula mudava de tal forma durante a maturação que era impossível voltar a um estádio imaturo, pluripotente”, refere o comunicado da Assembleia Nobel do Instituto Karolinska. “As descobertas [dos dois cientistas] revolucionaram a nossa compreensão de como as células e o organismo se desenvolvem.”
domingo, 7 de outubro de 2012
sexta-feira, 5 de outubro de 2012
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
quarta-feira, 3 de outubro de 2012
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
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