quarta-feira, 21 de abril de 2010

Um grito em forma de livro: Não há morte nem princípio, Mário Dionísio


Contista, um dos primeiros, entre nós, a interessar-se pelas perplexidades do intelectual que é (ou quer ser) homem de acção, poeta para quem a poesia foi um ins­trumento de combate e também uma meditação acerca do amor, ensaísta que aprofundadamente discutiu os problemas da arte — Mário Dionísio representava no actual panorama do romance português o curiosíssimo exemplo de um romancista sem romances (ou, para falar com mais clareza, o exemplo de um autor que somente no romance poderia buscar e achar a unidade de todas as suas múltiplas preocupações, preocupações que, ao fim e ao cabo, sabemo-lo agora, são as de um moralista que se interroga acerca dos fins e dos meios). Inventário sombrio de um certo momento da vida por­tuguesa, balanço (justo?, injusto?) do que fizemos e do que não soubemos fazer — ei-lo, finalmente, esse inevi­tável, arriscadíssimo romance, um belo romance, um romance novo, complexo, perturbador, um desses ro­mances que nos fazem pensar, que são a imagem cruel (e polémica) de muitos dos nossos fracassos.

Augusto Abelaira

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