Tanta terra entre nós
Tanta terra entre nós... E este encosto que é o tempo. Temos tempo. De nos vermos. De nos conhecermos. De estarmos juntos. Mas não havia tempo. Não havia nenhum mês, semana, ano, dia, segundo para nós. E tantos filmes a passarem-me pela cabeça. Primeiro, pensei que eras impotente e que precisavas destas histórias para te excitares um pouco, desde que elas não tivessem consequência e fossem apenas sonhos acordados onde pudesses ser aquilo que querias realmente fazer. Esta ideia nunca mais me saiu da cabeça. Depois, pensei todas as outras vulgaridades dos desencontros, que eras casado, amordaçado por uma mulher seca e castradora, que eras falso, mentiroso, que tinhas filhas tiranas e que eras um depressivo à beira do suicídio que precisava destas histórias para viver menos velho, desactualizado e datado. Tinhas uma memória de elefante, de facto, o que me levou a pensar que eras culto, mas não eras. Não sabias nada da vida de hoje, excepto o tipo de cuecas que as mulheres usam, agora, e achavas isso uma grande qualidade, uma modernice tua, tu, que querias desprezar as modernices como os motéis e outros antros afins. Tinhas um EU do tamanho do mundo: só tu. O resto rodeava-te, envolvia-te, invejava-te, desejava-te, fazia-te vénias, premiava-te. E, sim, é verdade que tens uma voz única, mas as tuas histórias repetem-se em cada livro e, por isso, afirmas todos os dias, que não são as histórias que te interessam. Mas o que seria de ti sem elas? Vives delas. Das que vives e das que usurpas aos outros e fazes tuas, como um dono do mundo. Mordes a mão que te alimenta. Devias trincar a língua de cada vez que mentes ou alguém podia pôr-te pimenta na língua como se faz às crianças, quando mentem.
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