quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Grito 19

SONHOS

No patamar do andar onde vivi a minha infância presencio a seguinte cena: um presumível ladrão vira a minha mãe contra a parede e açoita-a no rabo com um chinelo. Assisto à cena impotente e acordo sempre aflita deste sonho que se repetiu inúmeras vezes durante a minha meninice e algumas durante o resto do tempo. Bater com o chinelo no rabo era uma forma de castigo que o meu pai utilizava comigo. Este sonho era a preto e branco.

O meu primeiro sonho a cores foi talvez o sonho mais simples de que me lembro: o de uma porta pintada de azul. A porta era muito grande, ocupava quase todo o meu espaço visual e o pouco que não ocupava era preenchido por um bocado de parede vermelha. As cores eram muito vivas e nítidas e nunca duvidei deste sonho.

Sonho que estou a brincar num planalto cheio de relva muito verde e fresca e de repente começo a deslizar pela inclinação da montanha que se acentua cada vez mais e caio em direcção ao precipício sem nunca ter chegado ao fim do sonho e acordo sempre neste momento de queda numa enorme aflição.

Tenho um sonho erótico com uma figura pública. Essa figura nem sequer me é particularmente querida e nisso reside a estranheza do sonho. O erotismo não é factual, vive de sensações. Essa personagem aproxima-se de mim e abraça-me com muito carinho e diz-me algumas palavras junto do pescoço. Essas plavaras tinham o objectivo de me excitar e não de serem ouvidas. Acordo estimulada e zangada por ter acordado.

Não consigo respirar. Preciso de realizar inúmeras tarefas, estou preocupadíssima com alguma coisa, mas não consigo fazer nada porque não posso respirar. Cada tarefa que realizo recorda-me as mil e uma que não realizei. São tarefas inglórias. Sempre com uma enorme dificuldade em respirar. Acordo cansada e a precisar de beber água.

Vens ter comigo e pedes-me desculpa. Faço-me cara, mas acabo por te desculpar e surge o abraço antigo e a memória desse abraço é tão devastadora que acordo a chorar.

Ordenas-me que me venha pelos olhos, em pleno acto sexual. Esforço-me muito mas não o consigo. Estás sempre a dizer o mesmo e eu quero parar mas não o permites: só quando te vieres pelos olhos, ameaças. E começo a chorar no sonho e continuo quando acordo.

Sangro pela boca como se fosse uma fonte. À minha volta as pessoas apreciam o espectáculo e nada fazem para me ajudar. Apertam-me os dedos e eu deixo de sangrar. Quando olho para o lado para ver quem me tinha apertado os dedos e agradecer, voltam a apertar-me os dedos e eu sangro de novo pela boca como se fosse uma fonte. Acordo com sabor a sangue na boca.

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