domingo, 24 de janeiro de 2010

Grito 12

Desculpa

Desculpa. Desculpa ter-te dito que gostava de ti. Ter-te transmitido esse conhecimento sem saber se poderias recebê-lo ou não. Não pensei. Senti e disse o que senti. Não pensei nas implicações que isso poderia ter para ti, sobretudo nas mais desagradáveis. Não te peço desculpa por gostar de ti, claro. Mas não podes imaginar o quanto me arrependi da forma como o disse. Se pudesse voltava atrás. Mas não posso. Está dito. Eu sei, não te conheço, vejo-te num dia, depois noutro passado algum tempo, trocámos meia dúzia de palavras e eis que levas com esta brutalidade em cima: gosto de ti. Uma coisa tão simples pode assumir proporções complexas, não é? Não, nunca me tinha acontecido: conhecer e gostar quase em simultâneo. Mas vai de encontro ao que, cada vez mais, suponho serem as emoções: instantâneas. Quando gostamos de alguém, gostamos logo. Não é por se conhecer muito bem ou há muito tempo uma pessoa que se gosta mais ou menos. Gosta-se e pronto. A questão é: até que ponto temos o direito de obrigar o outro a ouvir, ler, aperceber-se disto? E por isso te peço desculpa, desculpa, desculpa, sem reservas, num arrependimento sincero, numa culpa aberta e com uma pena imensa. Estava a apreciar tanto a nossa troca de imagens e fui interromper tudo isso, que, afinal, era o que valia a pena, era o que ficaria, era o caminho de uma possível relação de amizade. Pronto, agora que já fiz de ti o meu muro das lamentações, deixa-me que te diga o que me preocupa: quando disse…”voa”…, não era para desapareceres, era apenas para te desligares do que te tinha dito; não era para deixares de trocar emails comigo, era apenas para não te sentires constrangido com esse conhecimento. Acho que esperava que, na ausência de correspondência afectiva, brincasses um pouco comigo, aligeirasses a situação, vá lá, poderias até gozar-me um pouco. Acredita que aguento tudo isso e tenho uma enorme resistência à frustração. O que me custa é que possas, eventualmente, ter ficado magoado comigo, mal impressionado, a pensar mal de mim. Não é que não tenhas o direito de pensar mal de mim, claro que tens, mas custa-me. Já ouviste falar em segundas oportunidades? Começar de novo? Olá, como te chamas? Queres ser meu amigo? Queres ver os meus brinquedos? Mostras-me os teus? Prometo não os estragar. Prometo não te magoar. Tudo como antes? Houve antes?

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